O Frio

O frio lá fora sussurra contra o vidro,

um xale de geada, um mundo enregelado.

Mas aqui, o teu corpo é o meu abrigo,

e o inverno é apenas um quadro esquecido.


As chamas dançam, um balé dourado e voraz,

lambendo a escuridão com suas línguas de paz.

E na pele nua, o seu reflexo a tremer,

o calor que sinto não vem só do lume a arder.


Tua mão desliza, um brando assédio de verão,

sobre a geada interior da minha solidão.

O crepitar da lenha é um ritmo, um segredo,

que acompanha o baile do nosso desejo quieto.


E quando os suspiros se confundem com a fumaça,

o inverno dobra a esquina, a alma fica farta.

Pois o fogo que queira não está na lareira,

mas no verão sem fim que a tua pele liberta.

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