Fantasma Carnal


Não é o toque que me define,

mas o seu contorno na escuridão.

O molde do teu corpo no colchão,

geografia do que ainda não veio.


Teus dedos não pressionam minha nuca,

mas o eco deles aprendendo o osso.

É a memória da tua boca úmida

que me bebe agora, em seco.


Ausência que se faz presença ativa,

mais densa que a carne, mais urgente.

Projeto-te sobre a parede nua,

e o vão entre nós fica quente.


Sinto o peso do teu olhar distante

mais do que a palma sobre o peito.

É um assédio de imaginário,

um delírio preciso, um preceito.


O erotismo mora neste intervalo,

nesta lacuna que palpita e chama.

É o negativo do abraço,

a fotografia que ainda queima na cama.


E no ápice deste vazio inventado,

quando o corpo arqueja por um golpe de ar,

compreendo que o gozo mais profundo

é aquele que só a saudade sabe dar.

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