A Carne que Questiona


Sobre a pele, um tratado de existir:

teus dedos traçam mapas de um vazio primordial.

Cada toque — um ato de rebeldia contra o nada,

cada beijo — um problema sem solução na boca.


Não somos deuses, mas animais que pensam,

suando angústia no crepúsculo do quarto.

Estes corpos, feitos de acaso e desejo,

procuram sentido no breve tremor de um músculo.


Abraço-te não por amor, mas por desespero,

porque a solidão é um abismo muito largo para um só.

E quando entras em mim, não é para preencher,

mas para ampliar o vazio que nos define.


Gozamos não de prazer, mas de esquecimento:

trinta segundos de silêncio metafísico.

Antes que a mente retorne, pesada,

a perguntar por quê.


Nesta cama, sob o peso do universo indiferente,

inventamos significados com nossos húmidos corpos.

Sabendo que amanhã seremos de novo

dois estranhos, vestindo a mesma solidão essencial.

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