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O Frio

O frio lá fora sussurra contra o vidro, um xale de geada, um mundo enregelado. Mas aqui, o teu corpo é o meu abrigo, e o inverno é apenas um quadro esquecido. As chamas dançam, um balé dourado e voraz, lambendo a escuridão com suas línguas de paz. E na pele nua, o seu reflexo a tremer, o calor que sinto não vem só do lume a arder. Tua mão desliza, um brando assédio de verão, sobre a geada interior da minha solidão. O crepitar da lenha é um ritmo, um segredo, que acompanha o baile do nosso desejo quieto. E quando os suspiros se confundem com a fumaça, o inverno dobra a esquina, a alma fica farta. Pois o fogo que queira não está na lareira, mas no verão sem fim que a tua pele liberta.

Fantasma Carnal

Não é o toque que me define, mas o seu contorno na escuridão. O molde do teu corpo no colchão, geografia do que ainda não veio. Teus dedos não pressionam minha nuca, mas o eco deles aprendendo o osso. É a memória da tua boca úmida que me bebe agora, em seco. Ausência que se faz presença ativa, mais densa que a carne, mais urgente. Projeto-te sobre a parede nua, e o vão entre nós fica quente. Sinto o peso do teu olhar distante mais do que a palma sobre o peito. É um assédio de imaginário, um delírio preciso, um preceito. O erotismo mora neste intervalo, nesta lacuna que palpita e chama. É o negativo do abraço, a fotografia que ainda queima na cama. E no ápice deste vazio inventado, quando o corpo arqueja por um golpe de ar, compreendo que o gozo mais profundo é aquele que só a saudade sabe dar.

A Carne que Questiona

Sobre a pele, um tratado de existir: teus dedos traçam mapas de um vazio primordial. Cada toque — um ato de rebeldia contra o nada, cada beijo — um problema sem solução na boca. Não somos deuses, mas animais que pensam, suando angústia no crepúsculo do quarto. Estes corpos, feitos de acaso e desejo, procuram sentido no breve tremor de um músculo. Abraço-te não por amor, mas por desespero, porque a solidão é um abismo muito largo para um só. E quando entras em mim, não é para preencher, mas para ampliar o vazio que nos define. Gozamos não de prazer, mas de esquecimento: trinta segundos de silêncio metafísico. Antes que a mente retorne, pesada, a perguntar por quê. Nesta cama, sob o peso do universo indiferente, inventamos significados com nossos húmidos corpos. Sabendo que amanhã seremos de novo dois estranhos, vestindo a mesma solidão essencial.

Echos in the void

 In the void's embrace, where stars burn out, Our love was a whisper, a fleeting shout. You a shadow in the cosmic play, Embraced the end, in his own stark way. No gods, no myths, in his final breath, She met the void, the eternal death. Life, a fleeting spark, a moment's blaze, In its brief fire, we spent our days. Chance brought us close, in the endless night, In time's cold expanse, a brief respite. Ten years, a blink in the universe's eye, Under indifferent stars, we lived our lie. Now she's gone, into nothingness' fold, Her absence a void, dark and cold. No reunion in some ethereal sphere, Just the silence of the cosmos, vast and clear. In the grand emptiness, where we drift apart, Our love but a dream, in the cosmic heart. In the end, alone, we each must roam, In the universe's void, forever home.

Urgente

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 Amor, em sua urgência, clama alto, Como um navio que anseia pelo vasto mar. Palavras que devemos desfazer, Ódio, solidão, crueldade a temer, Lamentos incessantes, espadas a enterrar. A alegria, uma criação necessária, Beijos a multiplicar, campos a florescer, Rosas a descobrir, rios a desvendar, E manhãs claras, em luz a nascer. Sobre os ombros, o silêncio pesa, E a luz, impura, fere a vista, arde sem cessar. Amor, em sua urgência, clama e reza, É imperativo amar, é vital ficar. Na solidão, onde sombras se entrelaçam, Ecoam passos vazios, em corredores sem fim. Melancolia, como véu, suavemente desce, Cobrindo corações em seu lamento sem voz. Nas horas tardias, a alma, só, vagueia, Por jardins de sonhos murchos, sob a lua pálida. Lágrimas de estrelas caem, silenciosas, frias, Em noites onde a esperança parece tão frágil. Mas ainda na tristeza, na dor mais profunda, O amor sussurra, uma chama que nunca se apaga. Na escuridão, ele brilha, eterno e imutável, Pois mesmo na solidão, o a...

Echoes in the Void

In the void’s embrace, where stars burn out, Our love was a whisper, a fleeting shout. You a shadow in the cosmic play, Embraced the end, in his own stark way. No gods, no myths, in his final breath, She met the void, the eternal death. Life, a fleeting spark, a moment’s blaze, In its brief fire, we spent our days. Chance brought us close, in the endless night, In time’s cold expanse, a brief respite. Ten years, a blink in the universe’s eye, Under indifferent stars, we lived our lie. Now she’s gone, into nothingness’ fold, Her absence a void, dark and cold. No reunion in some ethereal sphere, Just the silence of the cosmos, vast and clear. In the grand emptiness, where we drift apart, Our love but a dream, in the cosmic heart. In the end, alone, we each must roam, In the universe’s void, forever home. 

Gosto

Das noites quentes do verão, onde a brisa do suão acaricia a pele. Gosto do verde exuberante da primavera, que desperta desejos e esperanças. Gosto do sorriso das crianças, brincando inocentes, revelando segredos. Gosto da doçura do toque de uma mulher, a sensualidade em seu olhar profundo. Gosto da leveza dos cabelos longos, que convidam ao toque e à carícia. Gosto de uma escrita intensa, que desnuda desejos ocultos e paixões ardentes. Não tenho apreço para palavras supérfluas, ocos de significado, que escondem o que realmente importa. Gosto das manhãs frescas do verão, onde a maresia e a luz sussurram promessas sensuais. Gosto de frutas suculentas, que escorrem prazer a cada mordida. Gosto das coisas simples, diretas, cruas, que revelam a autenticidade da paixão. Gosto do calor do romance e da poesia, onde as palavras são suspiros e gemidos. Não suporto indecisões, prefiro a entrega total, sem reservas. Gosto de saborear cada momento como se fosse o último. Gosto de rir, de sorrir, d...